DIVULGAÇÃO: DENÚNCIA DE RACISMO EM PORTO ALEGRE BRASIL, DE QUE FOI VÍTIMA O REVERENDO JOEL MBONGI KUVUNA DA ÁFRICA DO SUL
O Bloco Democrático - BD através da sua presença internacional faz divulgação de denúncia:
SEG, 28/11/2016 - 17:06
Jornal GGN - O
Reverendo Joel Mbongi Kuvuna, estudante de Doutorado da Universidade de
KwaZulu-Natal esteve em São Leopoldo, no Rio Grande do Sul, para
participar de um Seminário Internacional que contou com a participação
de vários países. Ao retornar para seu país, no aeroporto Salgado Filho,
em Porto Alegre, o reverendo foi humilhado por policiais sem farda ou
por milicianos do aeroporto. A conclusão, já que não estava sozinho e só
ele passou pelo vexatório exame, é de que sua cor e nacionalidade
motivaram as agressões. Leia o relato de Joel Mbongi Kuvuna sobre a
vergonhosa situação ocorrida em Porto Alegre.
Carta
Reverendo Joel Mbongi Kuvuna
Estudante de Doutorado da Universidade de KwaZulu-Natal
Pietermaritzburg
África do Sul
Sua Excelência
O Embaixador
Embaixada Brasileira em Pretória
África do Sul
25 de novembro de 2016
Cópia:
Vice-Reitor das Faculdades EST, Brasil
Universidade de KwaZulu-Natal, África do Sul
Union Theological Seminary, Estados Unidos
Universidade de Oslo, Noruega
Embaixada da República Democrática do Congo no Brasil
Embaixada do Brasil na República Democrática do Congo
Secretaria de Direitos Humanos no Brasil
Departamento da Polícia Federal do Brasil de Porto Alegre
Prezado Senhor
Episódio de Racismo ocorrido em Porto Alegre
Meu
nome é Reverendo Joel Mbongi Kuvuna. Sou natural da República
Democrática do Congo, estudante de doutorado na Universidade de
KwaZulu-Natal na África do Sul e pastor da Igreja Protestante.
Lhe
escrevo para expor o tratamento desumano que fui exposto em 21 de
outubro de 2016, ao término do Seminário Internacional ocorrido em São
Leopoldo, no Brasil. O encontro, intitulado “On becoming human-impacting
communities: Gender-Race-Politics”, recebeu participantes das
Faculdades EST (Brasil), Union Theological Seminary (EUA), University of
Oslo, (Noruega) e University of KwaZulu-Natal (UKZN - África do Sul).
Quando
retornávamos às nossas cidades de origem através do aeroporto Salgado
Filho, de Porto Alegre, por volta de 17h, fui cruelmente humilhado pelo
Departamento da Polícia Federal de Porto Alegre. Quatro policiais sem
uniforme militar, mas fortemente armados, vieram na nossa direção
extremamente furiosos e nos retiraram do setor de embarque: dois
professores e dois alunos norte-americanos e eu, logo após o check-in.
Nesse instante nos retiraram os passaportes violentamente, sem qualquer
explicação, ordenando que os seguisse; Nos instalaram em seu gabinete,
onde insistiram que meus colegas norte-americanos me deixassem sozinho
em uma sala separada. Neste momento finalmente entendi que eu seria o
alvo do episódio. Mas o que eu havia feito de errado? Minha única falha
seria a de ser negro e portar um passaporte africano.
Quando
meus colegas saíram da sala, os agentes abriram minhas bagagens e
espalharam meus pertences, sem que eu pudesse perguntar o que havia de
errado, dizendo apenas que eu ficasse calado. Fiquei traumatizado pelo
ocorrido, pois eles demonstraram claramente seu desdém por mim enquanto
verificavam minhas bagagens. Quando um dos agentes encontrou minha
loção, disse com desdém: “African lotion!”.
Então
chamaram seu cachorro para me farejar. Ao não encontrar nada, me
obrigaram a tirar toda a minha roupa e o forçaram a me farejar mais três
vezes. Quanto mais os agentes não confirmavam sua expectativa, mais
furiosos ficavam. Finalmente, após confirmar a inexistência de qualquer
irregularidade, nada foi explicado a respeito do que estava sendo
procurado e qualquer pedido de desculpas foi feito. Eles apenas disseram
para que eu recolhesse as minhas coisas e saísse. Eu chorei como nunca
antes, desde que me tornei adulto.
Por
que fui tratado de modo desumano, como um animal, mantido em custódia,
enquanto meus colegas me aguardavam do lado de fora? Ao perguntarmos que
lei havíamos desrespeitado, um dos agentes respondeu “se vocês
resistirem, nós queremos mostrar que estamos no Brasil”.
Eu
tenho apenas uma hipótese para isso: quando os agentes viram os
passaportes dos meus colegas, os retiraram imediatamente para que me
esperassem do lado de fora. Meu tratamento foi em função da minha cor e
minha origem. Sou africano e negro e espero uma explicação sobre o que
fizeram comigo, pois mereço respeito como ser humano. A cor da minha
pele não pode ser a razão para me denegrir. Foi uma conduta vergonhosa
do Departamento da Polícia Federal de Porto Alegre.
Espero
então uma explicação pelo que foi feito, pois as pessoas precisam ser
tratadas com respeito. Todos os seres humanos precisam ser tratados
dignamente. Os agentes sabiam que eu sou um aluno de doutorado e um
reverendo. Eu estava nu diante dos policiais, mas eles não estavam
preocupados com isso. Fui farejado pelo seu cachorro, e tudo isso por
causa da minha cor e minha origem.
Se
queremos um mundo melhor, precisamos banir a violência e a opressão,
tratarmos as pessoas com respeito, considerando que têm direito à
dignidade, grande valor e potencial de fazer deste mundo um lugar
melhor.
Minha
razão de escrevê-lo foi para informá-lo acerca desse evento, e reside
na esperança que o senhor acolha minha reclamação e leve até a polícia
que me tratou dessa forma, para que tenham consciência da dor que
provocaram em seu vergonhoso tratamento. Confio que a minha demanda será
considerada e minha voz ouvida.
Peço
ainda atenção às cartas das Instituições parceiras, que organizaram o
presente evento (Union Theological Seminary, dos Estados Unidos e
Faculdades EST, no Brasil), anexadas ao presente relato.
Saudações
Reverendo Joel Kuvuna
FIM DE DIVULGAÇÃO
No comments:
Post a Comment